quinta-feira, 16 de junho de 2016

Ser adulto é foda

         Leia e ouça: It's only fear
         
          Tem dias que parecem noites, já dizia minha vó. Hoje  é um deles. Desses que a hora se arrasta, desses que você só quer deitar em posição fetal e chorar até dormir, rezando pra que no dia seguinte crescer doa menos.
            Eu não acreditava, mas crescer é muito mais difícil do que a gente imagina. Quando a gente é criança, a vida de adulto tem um quê de glamour, a independência nos deixa ansiosos. Mal sabemos, que adulto é muito além do que se vê. Ainda criança eu li o clássico O Pequeno Príncipe, fiquei completamente encantada com a história que até hoje é uma das minhas preferidas. Às vezes eu releio, como agora, e vejo que o tal “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos” é uma das frases mais verdadeiras dessa vida.
            Crianças veem com o coração, e talvez seja por isso que eu gosto tanto delas. Por me lembrarem a inocência e a pureza que a gente perde ao longo dos anos. A idade chega e a gente fica meio cego, às vezes literalmente, outras a gente fica meio cego de si mesmo e dos outros. Envelhecer traz consigo a maturidade. O que é maravilhoso, claro, mas amadurecer pressupõe saber mais e entender esse mundo louco. Tudo isso acaba decepcionando,  fazendo a gente sofrer por algo pequeno mas que nós adultos transformamos em grandes pesadelos.
            Essa mania de esconder o sofrimento de ser adulto tá muito errada. Ser adulto é foda. A gente é obrigado a tomar decisões pra uma vida inteira, é tudo pra agora, pra ontem, pra já. A gente vive numa pressa de dar certo, que nem Deus explica.  E muitas vezes, no meio do choro a gente pensa em desistir. Mas gente madura não faz isso.
             Gente grande aguenta a bronca. E a maturidade esconde as lágrimas que queriam pular pra fora. Gente madura encara tudo de frente, de peito aberto  e cabeça erguida, porque não dá tempo de ficar triste no meio dos prazos do trabalho, da rotina da faculdade, dos planos da viagem, da compra do apê. A conta sempre chega, mesmo com a nossa crise de identidade batendo à porta. E no final do dia, esse é apenas mais um desabafo. Porque escrever é muitas vezes o refúgio do adulto que não pode chorar. 

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