Leia e ouça: Lighthouse Shine
Posso dizer que esse ano não começou muito fácil.Em tão pouco tempo, a vida já me provou sua singularidade tantas vezes. Fui colocada à prova, e descobri que não importa quanto tempo passe, saudade a gente sempre sente de quem um dia nos fez bem. Eu já tive medo da morte, já sim, hoje não mais. Sinto apenas um enorme - e bem profunda - tristeza.
Sei que quem mais sofre é aquele que
fica. Quem
vai, por mais duro ou trágico, vai em paz. Sinto porque nesses momentos percebo
o quão frágil é a vida, e o quão egoístas nós somos por aqui.
Todos nós sabemos que a vida é um
breve instante, e a morte é lar da saudade. Saudade de quem um dia fez
dos seus sorrisos mais abertos, os dias mais leves, e as lágrimas menos
culpadas. Saudade de tempos que não voltam mais, o último abraço, o último
telefonema, o último Natal. Ah se soubéssemos que estes seriam os últimos...Eu
e você sabemos que tudo seria muito diferente.Mas a saudade nunca seria menor.
Me pergunto se quem morre também
sente saudade...Mas prefiro acreditar que no lugar onde eles - os meus e os
seus - agora estão, não existe nenhuma dor, nem a da saudade. Essa
falta que eles fazem não passa, só porque eles passaram por aqui e deixaram um
pedacinho de si conosco.
Eles que agora viraram estrelas,
viraram nuvens, viraram espíritos, viraram anjos. Quero
dizer, anjos não viraram, porque aqui na Terra eles também eram, apesar de não
terem asas. Eles que eram nossos avós, nossos amigos, nossos pais, eles que
eram nossos, e hoje são Dele, e só a saudade é nossa.
Apesar de julgar saber de tudo,
quando a vida me obriga a encarar a morte, me dou conta da ingenuidade que
ainda nos cerca. Nós que nascemos sabendo que a morte é tão
certa, e cada dia a mais é na verdade um dia a menos. Nós que nos vemos
de mãos atadas ao perder alguém, e somos inundados por tantos questionamentos,
dor e saudade. Nós que somos humanos, e por isso não entendemos absolutamente
nada do verdadeiro propósito da vida.
Porque a vida humana não é definida
por batidas do coração, e sim pelo bem que fazemos, por quem cativamos. E
como diria Rubem Alves " A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A
"reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a
morte chegue quando a vida deseja ir." E que sejamos livres então, não
somente na vida, mas ainda mais na morte. Que sejamos perdoados pelo pouco que
entendemos deste intervalo que chamamos de viver.
Pois um dia a gente vai, mas a
saudade sempre fica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário