quarta-feira, 16 de março de 2016

Um dia a gente vai, mas a saudade sempre fica

            Leia e ouça: Lighthouse Shine

            Posso dizer que esse ano não começou muito fácil.Em tão pouco tempo, a vida já me provou sua singularidade tantas vezes.
Fui colocada à prova, e descobri que não importa quanto tempo passe, saudade a gente sempre sente de quem um dia nos fez bem. Eu já tive medo da morte, já sim, hoje não mais. Sinto apenas um enorme - e bem profunda - tristeza.
            Sei que quem mais sofre é aquele que fica. Quem vai, por mais duro ou trágico, vai em paz. Sinto porque nesses momentos percebo o quão frágil é a vida, e o quão egoístas nós somos por aqui.
            Todos nós sabemos que a vida é um breve instante, e a morte é lar da saudade. Saudade de quem um dia fez dos seus sorrisos mais abertos, os dias mais leves, e as lágrimas menos culpadas. Saudade de tempos que não voltam mais, o último abraço, o último telefonema, o último Natal. Ah se soubéssemos que estes seriam os últimos...Eu e você sabemos que tudo seria muito diferente.Mas a saudade nunca seria menor.
            Me pergunto se quem morre também sente saudade...Mas prefiro acreditar que no lugar onde eles - os meus e os seus - agora estão, não existe nenhuma dor, nem a da saudade. Essa falta que eles fazem não passa, só porque eles passaram por aqui e deixaram um pedacinho de si conosco.
            Eles que agora viraram estrelas, viraram nuvens, viraram espíritos, viraram anjos. Quero dizer, anjos não viraram, porque aqui na Terra eles também eram, apesar de não terem asas. Eles que eram nossos avós, nossos amigos, nossos pais, eles que eram nossos, e hoje são Dele, e só a saudade é nossa.
            Apesar de julgar saber de tudo, quando a vida me obriga a encarar a morte, me dou conta da ingenuidade que ainda nos cerca. Nós que nascemos sabendo que a morte é tão certa, e cada  dia a mais é na verdade um dia a menos. Nós que nos vemos de mãos atadas ao perder alguém, e somos inundados por tantos questionamentos, dor e saudade. Nós que somos humanos, e por isso não entendemos absolutamente nada do verdadeiro propósito da vida.
            Porque a vida humana não é definida por batidas do coração, e sim pelo bem que fazemos, por quem cativamos. E como diria Rubem Alves " A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir." E que sejamos livres então, não somente na vida, mas ainda mais na morte. Que sejamos perdoados pelo pouco que entendemos deste intervalo que chamamos de viver.
            Pois um dia a gente vai, mas a saudade sempre fica.