terça-feira, 27 de outubro de 2015

Mesmo que a gente volte, a gente não volta

   Leia e ouça: Comes and Goes

   Mesmo que caia aquele temporal mais uma vez, e você me empreste o guarda-chuva amarelo. Ainda que eu sorria de volta pra agradecer, e te olhe por sobre o ombro quando você virar de costas. Mesmo você me trazendo café sem açúcar no dia seguinte, com um sorriso desenhado num post-it só pra me deixar feliz e puxar conversa.
   Nem que você me mande uma mensagem no fim do dia, querendo saber se cheguei bem. Mesmo você me encarando por horas do outro lado do escritório e me deixando sem graça quando nosso chefe passa. Ainda que eu ceda e beba um ou dois drinques contigo na sexta, que voltássemos ao cinema, e acabássemos na cama como a primeira vez.
    E mesmo que eu acorde de madrugada assustada te procurando pelo quarto escuro, ou ligue meio bêbada, sabendo que vou me arrepender depois. Ainda que eu faça tudo de novo. Mesmo que a gente volte, a gente não volta.
    A gente não volta, não. Nem por mal, nem por falta de amor. Não volta porque ainda não inventaram uma máquina do tempo pra me fazer sentir tudo aquilo outra vez. Não volta porque nem eu nem você somos os mesmos de dez dias atrás, que dirá de um mês.
    Não volta porque a gente já sabe como pode acabar. Não volta porque eu me apaixonei por outro alguém, que  eu nem sei se ainda mora em você, ou já foi mandado embora também. E não vai voltar, porque o tempo não congela, e até o amor muda, não há como se culpar.

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