sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Uma saudade líquida

Leia e ouça: Esquecimento

   Deságua, é como um rio que corre e leva com ele as memórias. Enquanto ela se pergunta quanto tempo falta pra não fazer mais tanta falta. Antes de você cruzar a porta, ela ainda tinha muita coisa pra dizer. E não disse.
  Não disse o quanto seu sorriso aquecia seu coração. Não disse o quanto esse seu olhar pra vida a fez desejar ir mais longe um dia. Não disse o quanto era agradecida, nem disse o quão diferente você era de todos os outros, mas no fim acabou completamente igual.
  Acabou fechando a porta, enquanto ela com o braço ainda estendido tentava entender o que tinha dado errado dessa vez. Ela poderia te odiar. Ela poderia odiar você, por não conseguir ouvir mais as mesmas músicas, as suas preferidas – mania idiota essa dela de dividir cada pedacinho seu com as pessoas – ela também poderia odiar você por ter tornado um desafio deitar naquela cama sozinha. Ela poderia, mas não consegue.
  Não consegue porque ainda te ama. Te ama do jeito dela. Aquele que você dizia que admirava, lembra? Ela ainda ama o jeito como você ainda a encoraja, mesmo de longe e sem saber. Ela ainda ama o cheiro de vida que as coisas tinham com você por perto. Ela ainda ama cada lembrança. Ela ainda te quer por perto, moço.
  Os dias têm passado, e ela ainda espera. Esse era seu defeito desde sempre, não é mesmo? Esperar demais. Ela têm altas expectativas, nas pessoas erradas. Mas você era o certo, no momento errado.
  Você ainda lembra, quando no meio de uma conversa ela ficava em silêncio te olhando nos olhos? E você, todo preocupado sempre perguntava o que tinha dito? Ela dizia nada, você só fingia acreditar pra não começar uma briga. Não era nada, de verdade. Era só o jeito dela de guardar segundos, e eternizar aquilo que ela mesma já sabia que estava prestes a acabar.
  Você, essa beleza inesperada. E tão desejada. Desejado antes mesmo de você chegar, e desejado agora mesmo que você se foi. Escorrem nas lágrimas uma saudade líquida, e todo aquele sonho que ela mantinha de fazer durar.
  Ela sabia, sempre soube, que vocês dois queriam vidas diferentes. Que os caminhos até poderiam se entortar. Mas eles se cruzaram uma vez, naquela noite fria de julho pra ela te mostrar que sempre vale a pena tentar mais uma vez.

  E quando você dobrou a esquina, era só isso que ela ainda queria explicar. É que a vida tem sua obsolência programada, mas a gente não precisa ter as respostas de todas as perguntas. A gente não precisa ter medo de amar, ela não tinha, sabia e estava pronta pra te ensinar que a gente também não pode ter medo de se deixar amar.

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