quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Chove lá fora e aqui dentro de mim

 Leia e ouça: Set fire to the rain

  Sempre fui chorona, dessas bem sensíveis mesmo, que chora por motivos que muitos chamam de nada. Sou de chorar facilmente com comerciais de televisão mostrando famílias felizes, ou com cenas comuns da vida urbana - que não deveriam ser tão comuns assim- como ver uma criança malabarista no farol da esquina de casa. 
  Estranhamente, há algum tempo lágrimas não me percorriam o rosto. Se eu fui feliz todos esses dias? Claro que não, ninguém é feliz todos os dias. Mas não estou aqui para me lamentar dessa falta de felicidade, ou dessa felicidade fabricada que praticamente nos obriga a esboçar sorrisos o tempo todo.
  Estou aqui pra dizer que chorei. E chorei como nunca havia chorado. Chorei com gosto, quero dizer, com medo, com raiva, com alegria e com emoção. Chorei com vontade, mesmo tímida, escondida nos últimos bancos do ônibus. E o céu chorava comigo, na mesma intensidade, como se colocasse pra fora o que muito lhe machucava...Como se devolvesse pro mundo o peso que carregava.
  A chuva caía como se me entendesse, e me entendia. As gotas que molhavam as ruas tinham tanta verdade quanto as lágrimas salgadas que escorriam pelo meu rosto, borrando toda a maquiagem. O céu chorava pra se livrar, pra desafogar a cidade desse mar de calor que nos invadiu nos últimos tempos - Ah, o verão -; Eu chorava inundada por um misto de sentimentos, pior até que os picos de emoção da TPM.
  A tempestade que deixei sair carregou com ela a felicidade. A felicidade que dá quando depois de tentar mil vezes, a gente finalmente atinge nosso objetivo, as coisas finalmente dão certo. O meu choro era também de surpresa. Surpresas que a vida nos dá todos os dias, trazendo e levando pessoas, criando laços, brindando nossos dias com oportunidades imperdíveis. Lágrimas de medo, medo por estar crescendo e aos trancos e barrancos aprendendo a lidar com esse novo mundo da vida adulta, onde a gente finalmente - ou não - toma conta do próprio nariz.
  Chorei emocionada, encantada, e até um pouco cansada, porque numa viagem de ônibus a vida se fez mais clara pra mim, contrariando a escuridão do céu.

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