quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Me leve com você

Leia e ouça: Leve
 Nunca segui um rumo nessa vida, todo mundo que me conhece sabe o quão indecisa eu sou, daquelas que não sabe se casa ou compra uma bicicleta. Nunca fui muito pé no chão, vivo é mais com a cabeça na lua, em Plutão ou em Marte. Aliás vivia, né? Hoje eu perdi meus pensamentos num planeta mais perto daqui, mas não tão perto quanto eu gostaria que fosse.
  Eu sou um pouco perdida, um pouco maluca. Ou era, sei lá! É que de repente você me mostrou um mapa pro lugar que eu sempre procurei mas tinha tanto medo de encontrar. Lugar lindo esse, lugar onde eu posso ser quem eu sou sem medo de me perder.
  Vontade de voar já não tenho, mas sei que presa também não sou - e ter essa certeza me dá ainda mais motivos pra ficar. Quero é que morar aqui enquanto puder, e se quiser me levar contigo, vamos! Não precisa nem insistir. Quero é aproveitar enquanto a porta estiver aberta, e a coberta estiver na cama ainda com seu cheiro. Quero é ser leve como o ar pra invadir seu quarto toda manhã, ser discreta mas insubstituível pra você.
 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Amuleto

Leia e ouça: Sorte

  Sabe aqueles dias da vida em que tú já acordas com um sorrisão no rosto? Ouve passarinhos cantando e sai na janela pra curtir a vista? Sabe aqueles dias que tú viaja pra outro planeta enquanto tá sentada na sala de espera do dentista? Aqueles dias que a gente senta no sofá pra assistir a sessão da tarde e não consegue parar de mexer a perna de ansiedade? Pois é, tem sido assim desde que você entrou na minha vida, sem pedir licença, sem anunciar sua chegada e muito menos dizer que tinha toda a intenção de ficar.
  É que desde que você chegou, nem parece que o dias tem mesmo vinte quatro horas - quando eu não te vejo eles tem trinta e duas, juro - com você por aqui, os dias deixaram de ser nublados e chuva agora, é só de alegria.
Chegaste quietinho e calado, mas calou foi minha boca que tanto se orgulhava em gritar uma superioridade que nunca existiu. Roubou também as minhas palavras, que sempre somem quando olho esses teus olhos de rio, fresquinho e de águas calmas me pedindo pra mergulhar em você.
   Carrego no rosto um sorriso bobo de quem tirou a sorte grande em te encontrar, levo no peito uma alegria tamanha da minha menina que renasceu nas nossas brincadeiras, ouço agora uma melodia nova toda vez que ouço a tua voz bem pertinho do meu ouvido me implorando mais um beijo, ou pra ficar até o dia nascer.
  Melhor que trevo de quatro folhas, ferradura, figa ou a pedra do meu signo é ter você. Saber que eu tenho um amuleto pra me cuidar e proteger. Logo eu que nunca fui muito mística, que já quebrei tantos espelhos por aí e por isso devia ter uns milhões de anos de azar prometidos, encontrei você pra me fazer acreditar que sorte não é coisa que se pede, nem nada que se pode carregar na bolsa. É alguém que veio pra morar no coração e andar de mãos dadas pela rua.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Se eu pudesse fazer um pedido

Leia e ouça: Bella's lullaby

  Deitei a cabeça na grama, senti o cheiro das flores e fiquei ali por um tempo que muitos chamariam de uma vida, pensando sobre essa história louca que é estar nesse mundo e não aproveitar as chances que temos. Sabe, eu já perdi muito tempo me preocupando demais com gente que só me pesou, já gastei muitos planos com histórias que nasceram fadadas ao fracasso, já passei muito tempo dessa minha vida com medo das minhas próprias vontades.
  Mas hoje, respirar aquele ar puro do campo me reformou por dentro. Capturou meus medos e meus anseios que agora andam soltos numa brisa que não sei pra onde foi. Hoje eu não quis pensar em nada, quis esquecer essa rotina de me apegar, planejar, vencer ou fracassar. Hoje eu fingi que não vou acordar amanhã, só pra viver sem medos desse monstro que chamam de consequências. E se você soubesse quanta coisa eu descobri, meu bem.
  No fim do dia, se eu pudesse então fazer um último pedido seria que mais dias fossem assim. Embebidos desse espírito gostoso e destemido de encarar a vida. Eu pediria pra que esse medo da felicidade nunca mais batesse a minha porta, porque só eu sei quantas chances ele me roubou. Pediria uma dose de coragem pra pensar um pouco menos e fazer um pouco mais. Talvez eu até pedisse pra voltar atrás e refazer as coisas, ou não, acho que não, sem arrependimentos. Pediria pra tentar parar de me entender, e enxergar que essa vida foi feita mesmo pra se aproveitar, que nem tudo precisa ter um porquê, um começo, um meio ou um fim.
  Se eu pudesse fazer um pedido seria pra parar e tirar o pé do chão um pouco, deixar-me viajar sem rumo, sem medo, sem roteiro, e chegar onde tiver que ser pra começar a história que for sem planos nem expectativas, só a simplicidade de uma vida sem tanta explicação.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Se você vier esta noite

Leia e ouça: All in the waiting

  Te escrevo pra dizer que estou com saudades, e digo isso com um aperto enorme no peito. Porque a saudade é um mal que acaba com a gente, capaz de nos torturar usando nossa própria felicidade como arma. Escrevo com algumas lágrimas nos olhos e uma dúvida na cabeça, será que você volta? E se voltar, será que fica?
 Te escrevo pra dizer que se você  resolver voltar essa noite, que venha de peito aberto pois o meu coração é ingênuo e capaz de apagar todos os erros bobos que cometemos até aqui, capaz de começar uma nova história com direito á novas apostas só pra ter você aqui mais uma vez. E se você voltar traz aquele seu cheiro de roupa lavada que tá fazendo tanta falta no meu travesseiro.
  Se você vier agora, nem precisa avisar. O porteiro já sabe seu nome, e sabe que minha porta estará sempre aberta pra você. Se você voltar hoje, não precisa trazer flores nem desculpas, só me devolve a parte de mim que você levou e esse seu sorriso de bom moço que me rouba o ar de manhã.
  Se você decidir voltar, venha pronto pra correr o risco de eu nunca mais te soltar, porque só eu sei o quanto o seu abraço fez falta por aqui. Se bater vontade de voltar, não pensa duas vezes. Eu já nem penso meia quando se trata da gente. E se você quiser voltar, saiba que guardei os meus melhores beijos pra você e os melhores sonhos pra dividir contigo,  tem um pote do seu sorvete preferido no freezer, tem amor pra você transbordando do meu peito... Tudo isso só esperando você voltar, então vem logo ainda  essa noite, e traz as malas pra ficar.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Doce história de um amor amargo

Leia e ouça: Formato mínimo

  Era terça-feira quando eu o conheci, numa festa  que não era  estranha e que nem tinha gente esquisita. Eu só procurava a verdadeira emoção, ele mais um pouco de distração. Pra todos os santos do mundo já tinha prometido não me deixar levar pelas promessas vazias de uma noite, mas com ele foi exceção.
  Num piscar de olhos, um beijo de tirar o fôlego, revirar a alma e estremecer a vida. O universo girava cada vez mais rápido e meus pensamentos cada vez mais lentos presos áquele leve menear de cabeça e sorrisinho torto. Toda a ingenuidade se perdeu nos lençóis de um meio amor mal começado, ou mal acabado, seja como for.
  Deixando-me levar as mãos e os medos por seus cabelos, entrelaçando dedos, descobrindo outros jeitos, despertando o desejo, refazendo os meus erros, já fazia planos sem prever um fim tão próximo. O supreendente amanhecer que reduziu todo um roteiro imaginário á pó. O sol que iluminaria os dias das crianças da cidade, ao mesmo tempo apagava meus sonhos e minhas respostas.
  Vítima talvez da entrega, do desespero ou da insanidade. Presa á uma fantasia com prazo de validade. Hoje nada sou além das memórias de uma noite brindada á vinho e corpos sedentos, almas incompletas e incompreensíveis de um espírito já perdido. História doce de um amor amargo, como o café que ele nem tomou na manhã seguinte.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Já amou hoje?

Leia e ouça: The Homing Beacon
  Me perguntaram se eu já amei, então resolvi escrever esse texto.
Se apaixonar é como entrar num bote furado, tendo a imensa certeza de que vamos nos afogar. É escorregar de cabeça num tobogã de emoções que provocam nuvens no estômago e esmagam o coração. Se apaixonar é morar numa fantasia diária de um mundo cor-de-rosa.
  Amar é diferente. Amar é conviver com a certeza de que um outro alguém tão inseguro quanto você, tão imperfeito, é capaz de completar aquele teu pedacinho que faltava. Amar é quando a gente quer que dure mais do que pode durar. Amar é morar dentro de outra alma, amar é colocar a vida em xeque. A gente ama alguém quando não cabe mais em si, quando a única certeza que temos é não ter mais certeza nenhuma - e gostamos disso.
  O amor acontece quando o infinito que a gente imagina torna-se insuficiente pra viver ao lado da pessoa. Amar é fazer de todos os dias  os únicos e últimos pra ser feliz. Amar é uma aproximação de sentimentos e afinidades, quando a gente aceita o "pacote" com todos os defeitos de fábrica. Amar é quando sabemos que a diferença desse pros outros é tudo aquilo que temos em comum.
  Amar é sentir sem fazer  nem um pouco de sentido. Amar é quando faltam palavras pra explicar o turbilhão de coisas que a gente pensa quando divide a cama com a pessoa, ou a saudade enorme que sentimos quando ela vai embora. O amor não tem lógica, quanto mais se ama menos lógica se tem, e essa é a graça, a delícia de amar.
  Amar é perder o chão e ganhar o céu, é se entregar numa loucura infinita sem precisar de internação. O amor é uma paixão sem cura.


Inspirado no blog Abra o bico.