segunda-feira, 14 de julho de 2014

Transformando pontos finais em reticências

   “Existem coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos pra trás.” Estampado em grandes letras, talvez arial, no muro de uma casa amarela. Meu ônibus parou alguns metros à frente, desci apertando o passo, fugindo da chuva.
Mais tarde sentada no conforto de um sofá já amigo de outros carnavais, comecei a reviver pequenos momentos que deixei para trás; como se retratos de outras vidas se unissem pra contar minha própria história.
    O que exatamente eu tinha deixado passar? Quantas outras histórias eu poderia ter construído? E quantos outros caminhos eu poderia ter trilhado?
A verdade é que involuntariamente nós fazemos escolhas, e o que seria de nós se tivéssemos escolhido o azul ao invés do vermelho? A direita ao invés da esquerda?
    Ah, eu enlouqueceria se tentasse prever todas essas possibilidades da vida.
Mas a graça da vida é  essa imprevisibilidade, não é? É esse êxtase de não saber se vai durar uma noite ou a vida toda.
    Entre alguns goles do chá quente de frutas vermelhas, tento contar quantos capítulos já se encerraram em minha vida, e quantos ainda serão escritos. Fico me lembrando de quando eu tinha lá meus oito anos, e achava que fazer quinze era ser praticamente adulta. Com quinze, achava que dezoito era como receber a carta de alforria; hoje já calculo que trinta talvez seja a idade perfeita.  Mas afinal a vida  não é isso? Essa descoberta de opiniões diariamente?
  Parei pra pensar também, em quantas pessoas já entraram sem pedir licença. Abriram portas, acharam seu cantinho na minha vida até o meu coração, e deixaram um pouco de si, levaram um pouco de mim. A vida também é isso, esse mundo que gira rápido demais e provoca encontros e desencontros.
  Viver é muito mais misterioso do que qualquer conto de Edgar Allan Poe. É na verdade um misto dos mais maravilhosos autores, dos mais consagrados poetas. A delícia de estar vivo é justamente escrever diferentes histórias todos os dias, e ter o direito de transformar os pontos finais em reticências. Ter uma nova chance a cada despertar de mudar a sua trama.
 Se você vai fazer da sua vida um romance americano água com açúcar, ou uma ficção científica de tirar o fôlego, ou simplesmente se sentar e esperar outro alguém escrever o seu roteiro... Não é da minha conta. Só não se deixe perder nas entrelinhas, nem tenha medo de virar a página e começar tudo de novo, porque no final quem ganha o prêmio é você, o resto ninguém precisa saber.

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