“Existem
coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos pra trás.” Estampado
em grandes letras, talvez arial, no muro de uma casa amarela. Meu ônibus parou
alguns metros à frente, desci apertando o passo, fugindo da chuva.
Mais tarde sentada no conforto de um sofá já amigo de outros carnavais, comecei
a reviver pequenos momentos que deixei para trás; como se retratos de outras
vidas se unissem pra contar minha própria história.
O que exatamente eu tinha deixado
passar? Quantas outras histórias eu poderia ter construído? E quantos outros
caminhos eu poderia ter trilhado?
A verdade é que involuntariamente nós fazemos escolhas, e o que seria de nós se
tivéssemos escolhido o azul ao invés do vermelho? A direita ao invés da
esquerda?
Ah, eu enlouqueceria se
tentasse prever todas essas possibilidades da vida.
Mas a graça da vida é essa
imprevisibilidade, não é? É esse êxtase de não saber se vai durar uma noite ou
a vida toda.
Entre alguns goles do chá quente de
frutas vermelhas, tento contar quantos capítulos já se encerraram em minha
vida, e quantos ainda serão escritos. Fico me lembrando de quando eu tinha lá
meus oito anos, e achava que fazer quinze era ser praticamente adulta. Com
quinze, achava que dezoito era como receber a carta de alforria; hoje já
calculo que trinta talvez seja a idade perfeita. Mas afinal a vida não é isso? Essa descoberta de opiniões
diariamente?
Parei pra pensar também, em quantas
pessoas já entraram sem pedir licença. Abriram portas, acharam seu cantinho na
minha vida até o meu coração, e deixaram um pouco de si, levaram um pouco de
mim. A vida também é isso, esse mundo que gira rápido demais e provoca
encontros e desencontros.
Viver é muito mais misterioso do que
qualquer conto de Edgar Allan Poe. É na verdade um misto dos mais maravilhosos
autores, dos mais consagrados poetas. A delícia de estar vivo é justamente
escrever diferentes histórias todos os dias, e ter o direito de transformar os
pontos finais em reticências. Ter uma nova chance a cada despertar de mudar a
sua trama.
Se você vai fazer da sua vida um romance
americano água com açúcar, ou uma ficção científica de tirar o fôlego, ou
simplesmente se sentar e esperar outro alguém escrever o seu roteiro... Não é
da minha conta. Só não se deixe perder nas entrelinhas, nem tenha medo de virar
a página e começar tudo de novo, porque no final quem ganha o prêmio é você, o
resto ninguém precisa saber.
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